sábado, 9 de junho de 2012


Os Desvios Que A Língua Apresenta
                 Neste planejamento de aula abordaremos a questão da variação lingüística e este, será abordado na disciplina de Língua Portuguesa para alunos de 7ª série do Ensino Fundamental, sendo que a duração será de aproximadamente 2 períodos.
               Comentarei com eles a questão da variação lingüística e que a língua em si, apresenta diversificados modos de comunicação e que muitas pessoas se expressam de maneiras diferentes. Muitas vezes, ouvindo pessoas se comunicarem desta forma, surge o “preconceito”, que não é somente de cor, nível social...mas, sobretudo, lingüístico. Explicarei que essas diferenças (tanto de fala, nível social, cultural...) devem ser respeitadas tanto na escola como na sociedade e que falar “diferente” é apenas uma “nova” situação comunicativa e que deve ser respeitada por todos os falantes. Darei abertura para que alguns alunos comentem a respeito do assunto em questão, seguidos por algumas questões orais: Para você, o que é preconceito? Que tipos de preconceitos existem na sociedade em que vivemos? Você já presenciou algum tipo de preconceito? Onde? De que forma aconteceu? Quando? Dê sua opinião acerca das pessoas que apresentam preconceito. 


Os objetivos a serem alcançados com a temática abordada são os seguintes:

·         Os alunos deverão perceber por meio das leituras realizadas que a variação lingüística reforça a identidade cultural de um povo;
·          Falar de maneira “diferente” não dificulta a compreensão;
·          Esse tipo de linguagem deve ser respeitado, embora a escola prestigie a língua padrão;

·         Após o questionamento oral,conduzirei o poema “O Poeta Da Roça” da autoria de Patativa de Assaré ,a fim de que os alunos façam o trabalho de compreensão textual seguidos por algumas perguntas na qual escreverão no caderno. Explicarei que estamos falando de Antonio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa de Assaré, poeta e cantor cearense, falecido em 2002. Comentarei ainda que o escritor tem vários livros publicados, inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em jornais e revistas. “Patativa” porque se compara autor à Ave de Belo Canto e “Assaré” por causa do município de origem do poeta.

O POETA DA ROÇA – Patativa do Assaré
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio.

Sou poeta das brenha, não faço pape
De argum menestré, ou errante canto
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à procura de amo.

Na tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o nome assina.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estuda.

Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu só entra no campo e na roça,
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida apertada, da roça e dos eito
E às veis, rescordando a feliz mocidade,
Canto uma sôdade que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando a visage chamada caipora.

Eu canto o vaquêro vestido de coro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem terra e sem pão,

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade
Cantando a verdade das coisas do Norte.



Mas, antes da realização das atividades, perguntarei que os alunos pesquisem na Internet os significados de algumas palavras típicas do Nordeste na qual aparecem no poema e que não são usuais em nossa região, como por exemplo: brenha ( mata fechada ), pachola (vaidoso ), lida ( trabalho ), eito (roça, plantação ), visagem ( fantasma, visão sobrenatural ), caipora ( ente fantástico, da mitologia tupi: morados do mato ).
Após, os alunos realizarão as seguintes atividades de compreensão textual no seu caderno.

1.     Que tipo de fala o autor apresenta?
R: Apresenta a fala típica do brasileiro do meio rural. Isso pode ser identificado através da frase “trabaio na roça”.

2.     Segundo as idéias do texto, como podemos caracterizar Patativa como ser humano?
R: Homem simples, de origem humilde.

       3.  Retire do texto palavras conhecidas em nossa região, em nosso meio urbano que são apresentadas no texto na sua  variação lingüística e passe-as para a linguagem padrão.
R: Fio ( filho ), trabaio ( trabalho ),paper ( papel ), argum ( algum ), véve ( vive ), às veis ( às vezes ) ,paia ( palha ),  entre outras.

4  De que maneira o eu-lírico se apresenta no poema?
R: Como um caboclo pobre, sem instrução, cantor da coisas de sua terra e, apesar de sua condição, se diz feliz. 

5 Qual é o assunto abordado no texto?
R: A vida sofrida, valente, de muito trabalho e pouca instrução. Aborda também o caboclo, o vaqueiro e os mendigos nordestinos.
Darei um tempo para que os alunos possam desenvolver as atividades de compreensão textual e em seguida, far-se-á a devida correção. Subsequente à correção, perguntarei aos alunos se há dúvidas referentes às atividades. Entregarei uma folha em branco a fim de que possam registrar  os saberes aprendidos com esta aula como se fosse um diário de aprendizagem. Explicarei que nesta folha serão registrados todos os saberes construídos, as dúvidas que surgirão... enfim, os educandos darão continuidade ao diário a partir de anotações feitas em um caderno. A cada aula, alguns minutos serão direcionados à troca de saberes bem como eventuais dúvidas.
Conclui-se, portanto, através da explanação desta aula, que é possível propor um trabalho com a variedade lingüística, atingindo aos objetivos mencionados na abordagem da mesma. Pode-se observar que Patativa de Assaré eleva a variedade lingüística a um patamar artístico, literário, pela autenticidade, vigor e legitimidade de sua linguagem. Faz-se necessário,pois, trabalhar com este tema na instituição escolar, visto que é de suma importância que os educandos ampliem seus conhecimentos e reflitam acerca das  “diferentes” formas de se expressar e de se comunicar.
Obs:  Em um outro momento, os alunos participarão de uma discussão no MSN a fim de trocar idéias acerca do questionamento: O que você entende sobre variação lingüística?
A seguir, sugiro a leitura de textos complementares, a fim de que estes possam aprofundar e ampliar conhecimentos acerca da temática abordada.
Texto 1
O modo de falar do brasileiro (Alfredina Nery)*
Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos.
1) Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita;
2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo;
3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões.
Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados abaixo.

Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco
Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho.
Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: arve/árvore; figo/fígado.
Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe
Simplificação da concordância: as menina/as meninas.
Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: “Chegou” duas moças.
Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós pegamos “ele” na hora.
Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (tamém/também).
Desnasalização das vogais postônicas: home/homem.
Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe.
Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; amô/amor.
Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama

Vídeo 1
Vídeo 2

Bibliografia:
Disponível em:  www.google.com.br - Acesso em 01 de junho de 2012 às 7:30. Variações Linguísticas – O Modo de Falar Brasileiro.
Disponível em: www.youtube.com.br - Acesso em 01 de junho de 2012 às 8:25. A Turma da Mônica – Chico Bento - Na Roça é Diferente – dublado.avi
Disponível em: www.youtube.com.br - Acesso em 02 de junho de 2012 às 10:00. Humortadela sobre variação lingüística – Mídias na Educação.
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália. Ed. Contexto,1997, pág, 224.

Nome: Andreza Marin
Polo: Picada Café